O teatro de rua, tendo sua origem na Commedia Dell'Arte, começou com grupos itinerantes de teatro, muitas vezes constituído por uma família. Os personagens e técnicas eram passados de pais para filhos e os cenários e objetos teatrais, herdados.
Durante a colonização do Brasil, os jesuítas utilizaram o teatro para catequizar os índios, e o faziam fora do espaço convencional. Durante a ditadura militar, esse gênero teatral voltou a ganhar força e expressão, tornando-se um porta-voz da liberdade contra o regime autoritarista. Muitos dos grupos teatrais que se apresentavam nessa época ainda estão ativos, e ao longo do tempo, novos foram surgindo.
Em Brasília, podemos citar o grupo Teatro do Concreto, fundado em 2003. O nome da companhia foi inspirado no elemento predominante na estrutura da Capital Federal, já demonstrando uma forte ligação com o espaço de Brasília. De acordo com o diretor e fundador da companhia, Francis Wilker, eles buscavam “um teatro que dialogasse com a cidade assim como o rock e a música em geral convivem de forma bem visceral com Brasília”.
O foco do Teatro do Concreto está tanto nas aflições da vida moderna quando na pesquisa de novas possibilidades para a composição cênica, buscando criar uma relação com o espaço urbano e novas formas de dramaturgia.
Como exemplos de trabalhos do grupo Teatro do Concreto em espaços não-convencionais, temos a obra Borboletas Têm Vida Curta, encenada em asilos do DF. A peça abordava a questão da memória através de lembranças e recordações da infância.
Teatro do Concreto em asilo do DF, Borboletas Têm Vida Curta |
Teatro do Concreto em asilo no DF, Borboletas Têm Vida Curta |
Além de Borboletas Têm Vida Curta, podemos citar a intervenção urbana Ruas Abertas, buscando interagir com o espaço urbano de Brasília de forma a trabalhar os temas Amor e Abandono e a maneira como a cidade dialoga com esses mesmos temas. Ruas Abertas abordou diversas linguagens artísticas: performances, artes visuais e dança.
Teatro do Concreto e Intervenção Urbana Ruas Abertas em Brasília |
Outra obra do grupo que dialogou com o espaço urbano, foi Entrepartidas. A peça se deslocava pelo espaço, sendo encenada na Rodoviária do Plano Piloto, em um ônibus, nas ruas e paradas, na praça da 706 sul e dentro de uma casa. A proposta de Entrepartidas era abordar a vida cotidiana tendo a cidade de Brasília como texto e cenário. De acordo com o diretor Francis Wilker, o grupo quis fazer “um encontro com Brasília e um encontro com as pessoas”.
Cartaz de Entrepartidas, encenada na rodoviária do Plano Piloto |
Ainda em Brasília, podemos citar a Cia. Esquadrão da Vida, fundada em 1979. O grupo busca uma subversão bem humorada do espaço público e pesquisa a possibilidade de um teatro livre do academicismo baseado em elementos expressivos das festas populares - como acrobacia, música e dança -, além de resgatar aspectos da cultura popular e denunciar a exclusão da população de ambientes culturais. Para 2009/2010, foram definidas duas novas direções para o grupo: o retorno ao teatro de rua e a consolidação de uma tendência que remete à época da ditadura.
Da Cia. Esquadrão da Vida, podemos citar a produção O Filhote do Filhote do Elefante, encenada nas entrequadras do DF e na UnB. A peça é uma adaptação de Um Homem é Um Homem, de Brecht, e abre para o grupo a possibilidade de apresentações de textos teatrais na rua.
Apresentação de O Filhote do Filhote do Elefante na UnB |
Em outros estados do país, podemos citar o grupo Teatro da Vertigem de São Paulo, que também utiliza espaços não-convencionais para a encenação de suas peças, tais como igrejas, hospitais e presídios desativados. Isso estabelece uma relação entre a obra e as referências simbólicas do espaço usado, seus registros emocionais, seus elementos de memória e o caráter institucional dos espaços urbanos.
Os espetáculos têm como base criativa as vivências pessoais de seus integrantes e busca a construção democrática de espetáculos. O primeiro trabalho da companhia focado na utilização de espaços não-convencionais foi O Livro de Jó. A estréia ocorreu em 1995 no Hospital Humberto Primo, em São Paulo. A obra aprofundou os estudos da companhia na exploração de objetos e materiais do local e introduziu o elemento palavra nas obras do grupo, antes baseado no gestual.
O Livro de Jó, Teatro da Vertigem, São Paulo |
O projeto seguinte foi Apocalipse 11,1, tendo sua estréia oficial no dia 14/01/2000, no antigo Presídio do Hipódromo, em São Paulo. O projeto buscou abordar a questão dos excluídos sociais e se apresentou em Lisboa, Curitiba, Rio de Janeiro, Londrina, Alemanha e Polônia.
Nesse artigo foram apresentados alguns dos grupos mais conhecidos de teatro de rua no Brasil. É importante lembrar que existem outros grupos que utilizam esse gênero e que foram citados apenas alguns dos mais conhecidos.
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