"Posso escolher qualquer espaço vazio e considerá-lo um palco nu. Um homem atravessa este espaço vazio enquanto outro o observa, e isso é suficiente para criar uma ação cênica."
(Peter Brook)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Alguns Grupos e Trabalhos de Teatro em Espaços Não-Convencionais.

   O teatro de rua, tendo sua origem na Commedia Dell'Arte, começou com grupos itinerantes de teatro, muitas vezes constituído por uma família. Os personagens e técnicas eram passados de pais para filhos e os cenários e objetos teatrais, herdados.

   Durante a colonização do Brasil, os jesuítas utilizaram o teatro para catequizar os índios, e o faziam fora do espaço convencional. Durante a ditadura militar, esse gênero teatral voltou a ganhar força e expressão, tornando-se um porta-voz da liberdade contra o regime autoritarista. Muitos dos grupos teatrais que se apresentavam nessa época ainda estão ativos, e ao longo do tempo, novos foram surgindo.

   Em Brasília, podemos citar o grupo Teatro do Concreto, fundado em 2003. O nome da companhia foi inspirado no elemento predominante na estrutura da Capital Federal, já demonstrando uma forte ligação com o espaço de Brasília. De acordo com o diretor e fundador da companhia, Francis Wilker, eles buscavam “um teatro que dialogasse com a cidade assim como o rock e a música em geral convivem de forma bem visceral com Brasília”.

   O foco do Teatro do Concreto está tanto nas aflições da vida moderna quando na pesquisa de novas possibilidades para a composição cênica, buscando criar uma relação com o espaço urbano e novas formas de dramaturgia.

   Como exemplos de trabalhos do grupo Teatro do Concreto em espaços não-convencionais, temos a obra Borboletas Têm Vida Curta, encenada em asilos do DF. A peça abordava a questão da memória através de lembranças e recordações da infância.
Teatro do Concreto em asilo do DF, Borboletas Têm Vida Curta
Teatro do Concreto em asilo no DF, Borboletas Têm Vida Curta

    Além de Borboletas Têm Vida Curta, podemos citar a intervenção urbana Ruas Abertas, buscando interagir com o espaço urbano de Brasília de forma a trabalhar os temas Amor e Abandono e a maneira como a cidade dialoga com esses mesmos temas. Ruas Abertas abordou diversas linguagens artísticas: performances, artes visuais e dança.
Teatro do Concreto e Intervenção Urbana Ruas Abertas em Brasília

    Outra obra do grupo que dialogou com o espaço urbano, foi Entrepartidas. A peça se deslocava pelo espaço, sendo encenada na Rodoviária do Plano Piloto, em um ônibus, nas ruas e paradas, na praça da 706 sul e dentro de uma casa. A proposta de Entrepartidas era abordar a vida cotidiana tendo a cidade de Brasília como texto e cenário. De acordo com o diretor Francis Wilker, o grupo quis fazer “um encontro com Brasília e um encontro com as pessoas”.
Cartaz de Entrepartidas, encenada na rodoviária do Plano Piloto

   Ainda em Brasília, podemos citar a Cia. Esquadrão da Vida, fundada em 1979. O grupo busca uma subversão bem humorada do espaço público e pesquisa a possibilidade de um teatro livre do academicismo baseado em elementos expressivos das festas populares - como acrobacia, música e dança -, além de resgatar aspectos da cultura popular e denunciar a exclusão da população de ambientes culturais. Para 2009/2010, foram definidas duas novas direções para o grupo: o retorno ao teatro de rua e a consolidação de uma tendência que remete à época da ditadura.

    Da Cia. Esquadrão da Vida, podemos citar a produção O Filhote do Filhote do Elefante, encenada nas entrequadras do DF e na UnB. A peça é uma adaptação de Um Homem é Um Homem, de Brecht, e abre para o grupo a possibilidade de apresentações de textos teatrais na rua.


Apresentação de O Filhote do Filhote do Elefante na UnB

   Em outros estados do país, podemos citar o grupo Teatro da Vertigem de São Paulo, que também utiliza espaços não-convencionais para a encenação de suas peças, tais como igrejas, hospitais e presídios desativados. Isso estabelece uma relação entre a obra e as referências simbólicas do espaço usado, seus registros emocionais, seus elementos de memória e o caráter institucional dos espaços urbanos.

   Os espetáculos têm como base criativa as vivências pessoais de seus integrantes e busca a construção democrática de espetáculos. O primeiro trabalho da companhia focado na utilização de espaços não-convencionais foi O Livro de Jó. A estréia ocorreu em 1995 no Hospital Humberto Primo, em São Paulo. A obra aprofundou os estudos da companhia na exploração de objetos e materiais do local e introduziu o elemento palavra nas obras do grupo, antes baseado no gestual.
O Livro de Jó, Teatro da Vertigem, São Paulo

   O projeto seguinte foi Apocalipse 11,1, tendo sua estréia oficial no dia 14/01/2000, no antigo Presídio do Hipódromo, em São Paulo. O projeto buscou abordar a questão dos excluídos sociais e se apresentou em Lisboa, Curitiba, Rio de Janeiro, Londrina, Alemanha e Polônia.

  Nesse artigo foram apresentados alguns dos grupos mais conhecidos de teatro de rua no Brasil. É importante lembrar que existem outros grupos que utilizam esse gênero e que foram citados apenas alguns dos mais conhecidos.

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